Sunday, January 3, 2010

Herberto Helder

Last but not least, Herberto Helder, probably the greatest portuguese poet after Pessoa in the twentieth century. Herberto Helder comes from the surrealist tradition but his voice is entirely original; his language is hallucinatory, of a convulsive, incantatory and obscure beauty. He is the prototype of the inspired poet, in touch with the Gods. He is also the author of an outstanding collection of short stories of an autobiographical nature, about the time he spent in Brussels in exile, called Os Passos em Volta. He had an enormous influence in the most recent generation of Portuguese poets. These are the first verses of a long erotic poem from his first collection of poetry, "O Amor em Visita", published in 1958

O AMOR EM VISITA

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas -
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes:
Ele - imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra:
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
-Então cantarei a exaltante alegria da morte

(.....)

(O Amor em Visita, 1958)

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